A GRANDE FEIRA, de Luciano Trigo - Para um leitura sobre a Arte Contemporânea

 Em “A Grande Feira”, o jornalista Luciano Trigo faz uma crítica contundente à subordinação da figura do artista ao sistema mercadológico de arte. O autor apresenta uma reflexão sobre a arte contemporânea e seus principais atores num mundo onde o público cada vez mais é influenciado por outros agentes, que acabam por conferir valores artificiais à obra de arte.
A década de 70 é o ponto de partida da análise, época apontada pelo autor como o início da crise no mundo da arte, até os dias de hoje. A relação entre os vários personagens que compõem o chamado mercado da arte é estudada pelo autor: o artista, o crítico, o marchand, os colecionadores, as galerias, os museus, entre outros, têm suas funções dissecadas no livro.
Com argumentos sólidos e relevantes, o autor utiliza fatos reais para ilustrar suas opiniões e fomentar o debate pouco realizado no Brasil sobre este sistema, que hoje tem o mercado como norteador. Segundo o jornalista, atualmente, a arte contemporânea é oposta à concebida pelas vanguardas dos anos 70 e a antiga disputa entre “apocalípticos” e “integrados”, narrada por Umberto Eco, acabou com a vitória dos últimos.
O valor atribuído a obras que por muitos não são consideradas arte e por outros são compradas por milhões também é destaque em A grande feira. “A capa deste livro reproduz a obra The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, do artista plástico inglês Damien Hirst. Em 2004, o tubarão mergulhado em formol foi vendido por 12 milhões de dólares ao administrador de fundos americano Steve Cohen. Dois anos depois, Cohen recebeu uma má notícia: o tubarão estava se decompondo. O pequeno alvoroço no mundinho da arte foi logo abafado. Artista e colecionador negociaram a substituição do animal original, e não se falou mais do assunto”, conta Luciano Trigo.
O autor utilizou essa imagem como metáfora para revelar uma facção da arte contemporânea que, segundo ele, é frágil e efêmera como um cadáver mergulhado em formol. Para escrever o livro, Luciano Trigo manteve diálogos com professores, teóricos, leigos interessados e, principalmente com artistas. Com A grande feira, ele empreende uma defesa do que chama de verdadeira arte – “aquela que é sempre criadora, subversiva e nova”.

Luciano Trigo é jornalista, escritor, editor de livros, crítico de cinema e colunista do site de notícias G1. Pela Editora Record, o escritor lançou “O viajante imóvel” e pelo selo Galerinha Record, os infantis “Vira Bicho!”, “As cores do amor” e “A pequena ditadora”, publicado recentemente.